Monday, September 17, 2007

2 Dias em Paris

Sem efeitos especiais. Sem maquilhagem. Sem gente bonitinha demais. Sem decorações perfeitas. Sem cenários ideias. Sem a Paris dos filmes, mas com a Paris dos amantes! Crua, selvagem, sexual, mal-educada e LINDA!

Julie Delpy, a abençoada Julie Delpy, agarrou nos ensinamentos prodigiosos de Richard Linklater e, como em fórmula que ganha não se mexe, as semelhanças são muitas. Um filme que aparentemente sem ser sobre Paris, aborda algumas das suas vertentes mais enigmáticas e que não costumam ser tão abordadas nos filmes.

O filme propõe-se como uma abordagem às entranhas duma relação que, nos dias de hoje, se pode considerar longa (dois anos que podem ser abalados em dois dias) e que chega ao seu ponto de impasse: ou os amantes melhoram a sua relação e são felizes para sempre ou separam-se e ficam amargurados por não terem tentado mudar o outro ou mudar-se a si próprios de maneira a encaixarem, a se compatibilizarem. As diferenças entre Marion, uma fotógrafa francesa encorajada desde cedo a estar em contacto com a sua veia artística, e Jack, o típico americano neurótico, medroso e hipocondríaco, são mais que evidentes, eu diria mesmo que são gritantes! No entanto, mais do que evidente também é o facto de se amarem e de quererem que a sua relação resulte.

Julie Delpy parece o que é. É um génio e auto-retrata-se de forma brilhante no filme. Usa os seus próprios pais para interpretarem os pais da sua personagem, o que nos leva a crer que Julie é Marion ou pelo menos grande parte de Marion parte de Julie.

Seja quem for, Marion é divertida, impulsiva e muito parisiense!

Um filme sem pretensões, que é o que é: um brilhante texto, actual, pungente, político sem exageros, com diálogos inteligentes, mas não aborrecidos e sem brilhantismo na execução. Uma realização mediana, sem rasgos de genialidade, mas que cumpre o seu papel.

Na minha opinião, a genialidade do texto está em colocar o homem numa posição, que normalmente o cinema não explora: a posição de ciumento, neurótico, inseguro e desconfiado. Normalmente, são as mulheres que são retratadas desta forma… Por outro lado, os estereótipos culturais da boémia francesa, da sexualidade, da higiene, tudo é levado ao extremo!

Uma comédia romântica inteligente que dá um murro no estômago a todas essas loiras de Hollywood que para aí andam: chega de histórias da Bela Adormecida e do Príncipe Encantado! Nós já sabemos que ele não existe e é muito mais interessante ver o outro lado das coisas! Como aceitar um Príncipe menos Encantado, mas que nos encanta?

Porque como diz Julie Delpy: “all men are a pain in the but”.

Ah e não posso terminar sem vos deixar a genial frase publicitária do filme realçada pela minha grande amiga Joana e que resume todo o filme: Ele sabia que Paris era a cidade dos amantes, só não sabia é que eram todos dela…

Tuesday, September 4, 2007

Death Proof II

Agora vamos falar na obsessão de Tarantino por mulheres! Os close-ups são maravilhosos, despudorados e intimistas in a trashy way. São retratados dois tipos completamente diferentes de mulheres, mas vemos como ambos os grupos são semelhantes e todas nós nos identificamos com as saídas à noite, as conversas sobre homens, os pormenores escabrosos e tudo o que de bom e mau há numa verdadeira relação de amizade entre mulheres.

A cena do strip não é tanto exploração do sexo feminino, é mais uma demonstração de como um homem, mesmo profundamente marcado pela vida e com marcas físicas de violência, como o Stuntman Mike (aproveito para dizer long live Jack Burton – Big Trouble in Little China, de John Carpenter em 1986), consegue manipular uma mulher, consegue levá-la a fazer o que ele quer, ao mostrar-se afável, sensível. Além disso, a banda sonora é perfeita e a Vanessa Ferlito faz um papel fantástico, libertando-se e sendo o mais vulgar possível.

Vi uma entrevista de Tarantino no Leno em que este dizia que quando estava com um amigo, estava sempre só com um amigo, mas quando estava com amigas, estava sempre com várias. E ele soube captar a essência feminina na perfeição com diálogos geniais, uma percepção estranha da nossa convivência e, fundamentalmente, uma direcção de actores (actrizes, neste caso) brilhante. A vingança é outro dos temas repetidos, o que nos chega por pequenas alusões a Kill Bill, muito pouco subtis…

Uma nota breve para destacar Zoe Bell, do mais cómico que há!

Tarantino e as suas mulheres: ou se ama ou se odeia… Eu amo!

Resta-nos esperar pelo igualmente genial Robert Rodriguez e a segunda parte da saga Grindhouse no século XXI.

Death Proof I

Ora vamos lá pick the brain of Mister Tarantino… Ele agarrou em dois pormenores fundamentais, que, já havíamos compreendido em filmes anteriores, adora: 1. a riqueza de filmes antigos e a certeza de que o visionamento de muitos filmes, bons e maus, o fizeram evoluir; 2. a força e o poder da mulher, enquanto sexo fraco, ou talvez não… Assim nasce Deathproof.

E assim nasçam mais 500 filmes de Tarantino. Gosto muito de cinema e gosto muito de Tarantino e não acredito que todos os filmes bons tenham que ser chatos, moralistas ou sequencialmente lógicos. E este é um exemplo puro de como um filme com um argumento sem principio, meio e fim pode ser óptimo, enquanto exercício de cinema e enquanto entretenimento. Cinema é diversão e Deathproof diverte-me, in kind of a twisted way, mas diverte-me!

Não sou o género de menina de ir ao cinema e ter medo de filmes de terror ou virar a cara nos momentos maus, confesso que a repetida cena de colisão frontal de que toda a gente fala me divertiu brutalmente, mas vamos falar do filme…


Uma homenagem aos filmes de série Z. Eis o que gosto e o que não gosto. Em primeiro lugar, adorei as imagens icónicas do filme, que se reflectem sobretudo no retrato ao estilo pin up da mais que sensual, sexual, Jungle Júlia, gostei da cena inicial de estrada, que recorda tantos filmes da minha infância e até um pouco o Bonanza na apresentação do genérico. As falhas de continuidade estavam geniais e relembravam o verdadeiro propósito do filme: entretenimento! A passagem de preto e branco para cor está muito interessante, na medida em que numa primeira parte (a preto e branco), o terror adensa-se e a viragem no filme começa com a passagem para cor. Depois, não gostei tanto dos cortes sem sentido, das interrupções de diálogo, simplesmente porque estão forçadas demais, não batem certo com a parafernália que nos remete para o séc. XXI, como os telemóveis modernos.